10/02/2015

Glorificando o híbrido - Parte IV (final)

Atenção! Atenção! A discussão a seguir possui altos níveis de spoiler! Se você ainda não viu/ leu as obras aqui discutidas, cuidado. 


Chegando ao fim de nossa série, depois passarmos pelo cinema (Matrix) e anime (Kill la kill), é chegada a hora de ver um bom exemplo do híbrido na literatura. Para tanto, vamos ver o que acontece em Rei Rato, do mestre da weird fiction China Miéville (foto da direita). 
Numa Londres cerda de criaturas abomináveis que se esgueiram quase invisíveis pelos becos e esgotos, uma dessas criaturas governas todos os imundos ratos da cidade. O conflito começa quando um ser misterioso resolve destruir o Rei Rato: o flautista de Hamelin. Ele tem o poder de, através de sua música, controlar toda a população e fazê-la atender suas ordens. Para cada tipo de criatura, o flautista deveria tocar uma música diferente.
Vendo que não seria páreo para o flautista, Rei Rato decide ir atrás de seu "herdeiro", Saul Gramond. Saul é o híbrido, filho de uma aventura de seu pai com uma humana, que agora terá de despertar seu lado sombrio. Assim, vamos acompanhando toda a adaptação de Saul ao mundo sombrio dos esgotos, tudo acompanhado da batida veloz do jungle e do drum'n'bass. Durante esse aprendizado, o flautista também começa a caçá-lo para que toda a raça dos ratos seja destruída. 

Confronto final

No duelo final entre o flautista e Saul, vemos o quão poderoso é o antagonista, quando, com a música de seu instrumento, faz com que todos os humanos e ratos estejam sob seu domínio, entretanto, Saul consegue escapar do então iminente massacre dentro de uma casa de show, pois ele não é rato, nem humano. Sua hibridez faz com que o flautista não consiga dominá-lo e, assim, saia derrotado. Complementando o encerramento, vemos a clara mensagem política de celebração da miscigenação e da organização de uma sociedade que não se submeta aos caprichos de seus líderes. É possível ver o futuro como um ambiente de preservação da identidade e, concomitantemente, da promoção da diversidade. 

Concluindo

O que podemos ver a partir das três obras aqui apresentadas é que nas últimas décadas, a produção artística a nosso redor parece também ter se preocupado em promover a diversidade étnica e cultural. Escrever é sempre um ato também político e, como tal, serve de material para reflexão sobre nossos rumos em tempos de crises econômicas e políticas separatistas e/ ou persecutórias. Vale a pena ver o que cada um dos híbridos tem a dizer, perceber até onde somos como eles e ver o que podemos aprender com eles. Fica o convite. 

Perdeu as outras partes? Veja aqui as partes I , parte II e parte III da discussão!
 

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