04/06/2013

Pé (e arte) no chão (parte II)

A arte, o bem e o mal

Seguindo com a nossa discussão, voltamos a falar sobre o maniqueismo/ binarismo que tanta polêmica cria quando observamos a recepção de uma obra. Tomamos como ponto de partida, para quem não leu, a celeuma envolvendo o fato de Valesca Popozuda ter virado tema de dissertação de mestrado. Como propusemos, toda a discussão em torno de assuntos como este vêm da nossa incapacidade de organizar nosso pensamento de forma que não seja maniqueista. Sendo assim, acaba se tornando natural que "sacralizemos" tanto a arte como a cultura em si, posto que a ideia de algo "sagrado" nos traz conotação positiva e contributiva para nosso engrandecimento como seres humanos. E é exatamente aí que mora o problema.
Há milhares de anos possuimos dentro de nós tal tendência. Platão buscava o Belo (não aquele cantor horroroso), o elemento que fosse perfeito, único, e muito dessa visão platônica influencia até hoje nossa concepção de arte. Trocando em miúdos, arte tem a ver com perfeição, algo tão bem feito que só pode ter tido uma mãozinha divina durante sua concepção. O resultado disso tudo é que tendemos a considerar como arte tudo aquilo que, de algum modo, nos vincula a um engrandecimento espiritual, independente da religião cultuada, como se arte fosse uma espécie de stairway to heaven, um caminho para atingirmos Deus, o Nirvana, etc. 
Pois bem, esta tendência não parece de toda má, há milhares de exemplos que fazem questão de ressaltar essa relação entre arte e algo divino. Repare as contruções dos templos católicos ao longo da história, os arquitetura gótica; tambérm vale lembrar que, em muitas culturas, os registros literários tidos como "primeiros" ou "mais importantes", eram compostos por pessoas ligadas ao clero, como  os sermões comuns do Puritanismo norte-americano ou os de Padre Antônio Vieira aqui no Brasil. Arte e religião andam de mãos dadas, graças a influência expressiva da segunda em nossas vidas, o que acaba causando certa confusão e nos impulsionando a ver toda expressão artística da mesma forma. O que não atender a esta nossa concepção de arte, não será obviamente arte. Simples assim. E então, o que fica além desta visão unilateral apresentada? Como ficaria a obra de Soasig Chamaillard (foto)? É o que veremos no próximo capítulo de nosso bate-papo. Até lá!


Confira também a parte I aqui.


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