06/06/2011

Composição e performance (parte II)

O ato de compor depende de uma sincronia louvável, ao menos até certo ponto. Entretanto, esta sincronia tão sonhada se torna ineficaz quando nos deparamos com o nosso ego artístico,avido por ter para si todos os louros. Entretanto, muitos segmentos artísticos, tais como a dança, o cinema e a música (de que tratamos em especial neste post), depende da interação entre mais pessoas para sua criação. Na música é possível que um só músico componha uma obra inteira, mas o que aparentemente é um trabalho solitário, mostra exatamente o contrário. Seja na partitura ou de ouvido, o bom compositor sabe que deve contar com a disposição de todos os instrumentos que deseja, bem como dos silêncios e espaços entre eles. Lidar com isso parece fácil, mas basta algumas tentativas e vemos que não é bem assim. Guitarristas, por exemplo (como sou um deles me sinto mais à vontade para falar), tendem a querer cobrir toda as canções com suas linhas, não se contentando em ficar parado nem nos intervalos entre uma música e outra nos ensaios. O outro está ali, não nos esqueçamos, e ele também quer ser ouvido e precisa disso. Pensemos que a tensão que toda música precisa para seu engrandecimento raramene é feita sem a pausa, sem o relaxamento, sem a troca de falas que deve haver entre os instrumentos envolvidos. Acredito que no jazz, por ser um gênero propenso à improvisação, os músicos tendem a compreender melhor o que significa isso. Harmonizar-se, não apenas no sentido técnico da palavra, é preciso para uma boa composição. Há muitos que dizem que tocar numa banda é como conversar; talvez não haja melhor comparação. Se você é instrumentista e percebe-se um tanto "tagarela", quem sabe não seja hora de uma respirada. 

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