13/03/2010

Teaser de "Balelas" (parte III)

9. Pastor vs. pastor

"O pastor descansava na frente de um casebre, dava um trago num cigarro enquanto contemplava a paisagem paradisíaca. Tudo parecia perfeito, mas o seu cajado caiu no chão, o barulho assustou uma ovelhinha que tava perto, lá ia ele acalmar ela. Viu então um vulto observando ele. Nossa! E o que vem depois, tio? Calma que eu vou contar!"


10. Um anoitecer de 26

"Sou meio lerda, estabanada, demoro para processar os acontecimentos. Ontem foram muitos. O tato, os olhares, tudo foi mais intenso. Por que parou? Hoje me chama de falsa, essas coisas. Nunca fui dissimulada. Ele é que me olhava com aquele olho buliçoso enquanto eu arrumava a cama, o quarto em si. As pernas indo e vindo pela casa, ele pensa que não percebia, captava todos os seus gestos, apesar de lerda sou bastante atenta pra essas coisas. Mesmo ao lado da megera não cedia. Tá fazendo o que na porta da cozinha, meu amor? Olhando a Maria cozinhar. Realmente ela cozinha muito bem. A megera nunca foi ciumenta como eu, isso nos ajudava a manter segredo. Mas por que parar? Eu fiz algo que não deveria? Estou falhando, dando bandeira em algo? Por favor, ao menos uma palavra!"


11. A violoncelista

"As baforadas são meio simbólicas. A vida também se esvanece conforme se traga. E conforme se traga a dor, o amargo cresce nos ferindo o pulmão, sustentado por doces desvarios. Como as arcadas, uma causa tensão, outra relaxa. O corpo sendo preparado para sair, meu corpo não treme, cumpre seu dever. Eu no quarto. Érica ria. Eu chorava. Os dois na sala. Por que isso, meu Deus do céu? Calma, calma. Não é bom fazer besteira. Foi o que fiz.

A crina arruinada, Rodrigo, meu professor, ficou meio chateado... Érica ria. Vendo que desculpa não adiantava, eu me contive. Mais uma vez. Várias e várias vezes".


12. A neblina

"Não era novidade para ninguém da rua que éramos uma família decadente, e não tanto pelas finanças. É certo que esta casa enorme para duas pessoas está maltratada, carcomida – agora digo a mamãe que isso tem a ver com essa neblina. Que neblina, sua louca? Está piorando, é? Já não basta o que me fez a vida toda? E segue com a conversa de que não me expulsa por pena, por eu não ter para onde ir ou quem me aceitasse. Ela sabe que não havia pose para manter, a vizinhança toda soube, então acho que deve ser pena mesmo. Pena, é claro! Afinal, a família não é capaz de aceitar como normal tal comportamento. Mas foi por amor! O que fizemos foi por puro amor. Pena ter desaguado nesses dias que parecem infindáveis noites, cobertos de uma neblina que me enferruja e atrofia os ossos diante da janela; sensação de saudade..."


Continua...


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