12/03/2010

Entrevistando Phillipe Wollney


Phillipe Wollney, grande representante do movimento Silêncio Interrompido, de Goiana - PE, deus as caras (via e-mail) pelo nosso blog. Confira a nossa conversa sobre música e literatura, bem na linha desse cantinho.

Wander - Pergunta clássica de entrada aqui no blog. Quem é você? Como poderíamos definir Phillipe Wollney para apresentá-lo aos leitores do blog?

Phillipe: Um cara que não para quieto pois a natureza é fluxo, prefiro fazer do que ficar olhando as águas rolarem. Agitador cultural contra a normose que toma conta deste início de século. Poeta esporrando versos nestes caosnaviais de velhas usinas e famílias carcomidas pela ferrugem.

Mascavo

NESTES CANAVIAIS

SEIS MILHÕES DE NEGRO FORAM SORVIDOS

É IMPOSSÍVEL

ESSE CAFÉ NÃO DESCER AMARGO.

Wander - Você fala muito sobre poesia marginal; isso tem a ver com a idéia do escritor cretino, vista em alguns de seus poemas?

Phiollipe: Não, não. Sobre a poesia marginal procuro entende-la como manifestação de uma classe no universo burguês da leitura. Não é mais aquela coisa dos anos 70 contra a repressão da ditadura e a caretice das editoras e o minúsculo espaço do mercado editorial (que há até hoje). Prefiro entender a poesia marginal hoje como a ascensão de uma classe semi-letrada (como afirma o poeta e ensaísta Lara) que não foi para Paris, nem ocupou cargo de diplomata ou desembargador, que não fala mais de três idiomas, mas que não consegue (ou não pode) mais se encaixar em um universo sem leitura. Que não é de “boa-família” mas também não é analfabeto.

O “escritor cretino” é uma brincadeira literária usando a figura do bobo-da-corte, o que faz chalaça, que zomba dos nobres, o único da corte que faz piada sobre o Rei. Uso a figura do cretino para meus poemas mais bem humorados, chulos, boca podre. É incrível como há pessoas que acham que usar a palavra “boceta” é fazer baixaria na literatura.

O aprendiz

Me acusam de idealista,

Romântico, utópico, ingênuo.

Por favor não me venham com suas definições de merda.

Não passo do cretino poeta.


Wander - Há alguns dias mostrei uns vídeos que fazem parte de sua nova empreitada. Poderia apresentá-la ou explicá-la?

Phillipe: Então. Uma das mais recentes propostas poéticas que ando trabalhando são esses vídeos.

Primeiro, eles são uma necessidade que tenho em utilizar recursos tecnológicos.

Segundo, o áudio-visual é a linguagem que melhor atende a necessidade atual das pessoas em ralação a uma comunicação saturada de informação.

Terceiro, os mais recentes trabalhos (OBELISCO, ABSOLUTAMENTE, zulA, O AVESSO DA PARTIDA) tem mais haver com literatura do que com cinema. Os vídeos são uma busca da poeticidade do áudio-visual, porém com as referências literárias que possuo.

Quarto, são vídeos sintéticos, possuem no máximo dois minutos. É um desafio de síntese de idéias.

OBELISCO:

http://www.youtube.com/watch?v=InXRse9IYPk

ABSOLUTAMENTE:

http://www.youtube.com/watch?v=reZ95x_dQ0A

Zula:

http://www.youtube.com/watch?v=HRxm8mqA7ZU

O AVESSO DA PARTIDA:

http://www.youtube.com/watch?v=2n1jJwnpTHU

como dizem:

A vida é curta.

- Então, curta!


Wander - Você considera este seu novo projeto dentro que se tem como cyberpoesia?

Phillipe: Wander, sinceramente, preciso ler mais para te responder com mais segurança. A priori eu te responderia não. Não acho que seja cyberpoesia, prefiro chamá-la de poeticidade em vídeo. Acho eu cyberpoesia utiliza materiais ainda mais abstratos que a captura de imagens, tipo: linguagem binária. Também acho que ela precisa essencialmente da micro-eletrônica, do digital. Não que eu não utilize o processamento digital de imagem e som, mas acho que é algo essencialmente digital. Tipo os trabalhos desse cara, o André Vallias (http://www.andrevallias.com). Não sei se tem como chamar alguma coisa de cyberpoesia antes dos anos 60, ainda na era da película. Porém o Buñel já trabalhava o surrealismo no cinema desde os anos 30.


Wander - Notavelmente você é daquelas pessoas que chamamos de artista multi-uso, uma vez que toca guitarra, escreve poesias e agora adentra o mundo audiovisual. Como consegue conciliar estes diversos segmentos?

Phillipe: Pois é, as vezes fico me perguntando qual será a próxima enrascada que irei me meter (risos). Cara, quem me conhece sabe que sou super ativo, e às vezes isso me dá um bocado de problemas. Porém, uma coisa que me fascina é a interação/integração de linguagens, a expressão das idéias envolvendo vários sentidos do humano. Digo pra ti que minha grande proposta para o futuro é essa, expressões complexas (no sentido de vários pontos interligados) de idéias.

(...)

É com fome e sede de tudo

Que lhes ofereço essas palavras

E caminho com passos mais largos que as pernas

E tento agarrar o mundo maior que meus braços.


Wander - A quantas anda sua banda, a Flores Mortas? Algum projeto em mente com ela?

Phillipe: A Flores Mortas deu um tempo ou será silêncio sepulcral? Ou talvez passara a flor da idade. Mas continuo com a Prisma Orbe. Com a Prisma estamos reformulando o repertório estamos com novas idéias para a banda e talvez um CD para meados de 2011. E sábado temos ensaio.


Wander - Algumas pessoas da região, entre elas eu, lutam para uma integração dos movimentos culturais que ocorrem nos arredores. Sendo conhecedor do assunto, você acha possível uma real integração, considerando eventuais falhas ocorridas no meio do percurso, como a inércia por parte de alguns colaboradores, etc.?

Phillipe: Pois é Wander, esse é o grande problema. Acho que pior do que um sistema em que não há políticos preocupados com arte/lazer/educação nem políticas públicas eficientes principalmente no desenvolvimento e sustentação cultural, seja os próprios artistas apáticos em mobilizar-se. Muitas vezes os grupos se desfazer por questões de Ego entre os membros ou participantes do Grupo. Sei que deveríamos estar muito mais organizados, principalmente com toda esta facilidade de comunicação que possuímos, deveríamos estar mais articulados principalmente pela proximidade das cidades, levando em conta que são em média 20km entre cada uma. Mais acredito que a resposta virá com um grupo mais heterogêneo de artistas e residentes de várias cidades. Talvez seja a hora de pensarmos na biodiversidade e rejeitarmos essa mono-cultura e mono-linguagem.


Wander - Deixe uma mensagem aos leitores deste blog. Obrigado.

Phillipe: Acho que há muita coisa pra se fazer, e muitos modos para isso. Os artistas/pensadores devem ocupar os espaços públicos, ruas, praças, centros, escolas, muros, calçadas, o blog, site, e-mail, cartas, cartaz, etc. temos que recriar toda essa merda que está aí. Não tô falando de arte engajada, estou falando de ARTE. Eu escolhi a poiesis, o movimento, a criação ou seja CRIE + AÇÃO.

Abraço a todos e valeu por me aquentarem até aqui.

1.

Rimar é necessário

Quando tudo gira

Sentido anti-horário.

P.W.


Fotos: orkut de Phillipe

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