02/02/2010

Miau!


Às vezes uma palavra pode valer mais que mil imagens.

Altiva é a típica heroína. Linda. Lindíssima. A mulher que o coisa ruim pediu a Deus. Boa, sempre envolvida em caridade. Fina. Quarenta e seis quilos e meio. Hermética. Curta e, naquele momento, alta.

- Da-me outro Bloody Mary, please!

O bar toca jazz piano. A voz lânguida desliza pelos ouvintes. A moça apenas saboreia o drinque. Bebe-o como se o mastigasse; meio que um rito de prazer...

- Oi, gatinha! Tudo bem? Você está sozinha?

Gatinha. A palavra chega como um tiro aos ouvidos da bela. Após a ferida a moça cora. Não por rubor, mas por fúria. Da-se então que um tapa áspero contrasta com a brandura jazzística do local. Segue outro, outro mais; o que era improviso vira meio que batucada. Ele, o alvo, não reagiu. Bater em mulher não era do seu feitio – não em público. Gatinha... Que despautério! Bloody Mary focou pra trás. A música pára, como param os pensamentos do galã, abatido. A dama? Pensa revoltada na ocorrência enquanto pega um táxi para a Zona Sul. Gata? Ela não vive pela casa dos outros; não vive só de comer e dormir; não tem um pingo de medo de água; não procura ninguém apenas quando lhe convém, e, como se não bastasse, ele tem a audácia de afirmar que a moça tem um hálito de derrubar qualquer um que se aproxime!

- Gata... Ah, que palavra medíocre!

[Wander Shirukaya]


Foto ilustrativa: http://farm1.static.flickr.com/23/31989529_8417ae9105.jpg

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